Chu reviewed A Hora da Estrela by Clarice Lispector
"— Mas, Macabeazinha, que vida horrível a sua!"
5 stars
Diferente dos livros anteriores da Lispector que li, em A Hora da Estrela a autora se distancia de seu eu lírico nebuloso aqui delegando o tecer dum enredo a um narrador personagem bastante habilidoso. Ainda é Clarice, com toda certeza e maestria, mas para mim com um gosto inteiramente novo e muito bem vindo!
Macabea é uma pessoa mediocre e esquecivel, sem brilho e cor próprias e por isso mesmo é de se admirar que Clarice consiga extrair dela uma existência tão densa de significados e que nos coloca em cheque com nossa própria insignificância. É um enredo desalentador em que hora nos apiedamos de sua protagonista que seja por si mesma ou pelas circunstâncias agourentas da vida em momento algum parece digna deste papel. Mas quantos não são como ela e quando nós mesmos não nos encontramos neste mesmo estado de completo abandono de nós mesmos?
A Hora da …
Diferente dos livros anteriores da Lispector que li, em A Hora da Estrela a autora se distancia de seu eu lírico nebuloso aqui delegando o tecer dum enredo a um narrador personagem bastante habilidoso. Ainda é Clarice, com toda certeza e maestria, mas para mim com um gosto inteiramente novo e muito bem vindo!
Macabea é uma pessoa mediocre e esquecivel, sem brilho e cor próprias e por isso mesmo é de se admirar que Clarice consiga extrair dela uma existência tão densa de significados e que nos coloca em cheque com nossa própria insignificância. É um enredo desalentador em que hora nos apiedamos de sua protagonista que seja por si mesma ou pelas circunstâncias agourentas da vida em momento algum parece digna deste papel. Mas quantos não são como ela e quando nós mesmos não nos encontramos neste mesmo estado de completo abandono de nós mesmos?
A Hora da Estrela é um mergulho num buraco-negro da miséria do eu frente ao outro. Estruturalmente é um livro brilhante, cuja construção leva mais de sua metade em digressão numa espécie de ensaio de como e por onde começar por parte de seu narrador personagem para apenas nos últimos dez porcento do mesmo ele nos entregar tudo de forma fulgurante e brilhante, em reflexões avassaloras e em acontecimentos que nos atropelam porque a vida não espera e a morte toca seu violino do triste fim ali mesmo na esquina.
Impossível descrevê-lo em mais palavras. É um livro de experiência que precisa ser lido e vivenciado por seu leitor. Em pouco menos de 90 páginas eu ri, chorei, fui ao céu e ao inferno. É triste, mas é belo e também reconfortante e nestes paradoxos todos talvez esteja a chave para compreender o que pode ser viver verdadeiramente.